Grades Abertas: Encontros com a Prisão, por Maria Júlia
11 dez 2018
Texto dessa semana da Plataforma Desencarcera foi escrito pela senhora Maria Júlia, familiar que nos conta sua primeira visita a uma familiar presa.
Tenho na memória
Maria Júlia
Tenho na memória, a minha primeira visita a uma familiar em um presídio. A primeira impressão é que eu havia cometido um crime; pois recebia um tratamento hostil por por parte dos agentes penitenciários. Era incompreensível ser atendido assim.
Olha que ainda não estou falando da revista que é nada menos que desrespeitosa. Depois de toda aquela humilhação, de tirar roupas, retirar próteses dentárias, abaixar com dificuldade, pela condição física que a idade nos faz já com uma certa debilidade. Até chegar ao local da visita propriamente dita.
A minha primeira sensação era de que iria ter uma dificuldade para respirar. O muro me aterrorizava; ausência de verde; ausência de luz. Onde era tomado o banho de sol? Cadê Sol. A Mesa de refeição era o piso de concreto; aí também era o assento. Na minha idade era extremamente desconfortável enfrentar esta condição.
Nada me convence de que um ser humano possa ser submetido a tais condições. Ninguém merece!! Em uma segunda fase, ela foi presa novamente, pelo mesmo processo, em outro presídio. Ficou vários dias em que não tínhamos nenhuma notícia. Mandei carta, ela não recebeu, mandei fotos, não chegou até ela. Os agentes atendiam, não davam notícias. Não podia visitar pq era greve.
Nada era possível fazer para que ela entendesse que não estava abandonada. Como entender que o humano que está em mim não é o mesmo que está na pessoa do carcereiro? A dor que dói em mim não pode ser tão desigual da dor do meu irmão.