Grades Abertas: Encontros com a Prisão, por Marcio Nicodemos

28 jan 2019

Texto da semana na Plataforma Desencarcera!

Marcio Nicodemos, professor de filosofia da DIESP/SEEDUC-RJ e professor substituto de filosofia da educação da UFRJ.

POR QUE DAR AULA NA PRISÃO?, me perguntavam. Dentro de uma kombi caindo aos pedaços e quente, com cheiro de suor e comida, lotada de familiares de detidos e presos, que saía da estação de trem de Bangu rumo ao Complexo Prisional de Gericinó, eu ouvia as primeiras histórias sobre as vidas encarceradas. Havia exclusão e tristeza, medo e violência, tortura e morte. Na Estrada General Emílio Maurell Filho, que dá acesso ao Complexo, uma placa afixada em um poste dizia “FIQUE VIVO!”. Um bom conselho, pensei. Me identifiquei nas guaritas do Complexo e fui revistado na entrada do presídio. O portão bateu e o cadeado fechou às minhas costas. Segui por uma galeria escura e suja sob os olhos de vigias e de vigiados. Me apresentei na escola e ouvi: “ELES SÓ PENSAM EM FUGIR!”. Eu também, pensei. Mais tarde, na sala de aula, um aluno me disse: “AQUI É ONDE O FILHO CHORA E A MÃE NÃO VÊ!”. Eu tinha vontade de chorar e minha mãe não me via. Depois do meu PRIMEIRO DIA NA PRISÃO, voltando para casa, eu encontrei a resposta que eu procurava. EU DOU AULA NA PRISÃO PARA CRIAR MEIOS POSSÍVEIS DE RESISTÊNCIA, CONSTRUIR CAMINHOS POSSÍVEIS PARA A LIBERDADE, E TRAZER AO ÂMBITO DO VISÍVEL AQUELES QUE ESTÃO INVISÍVEIS SOCIALMENTE.