Grades Abertas: Encontros com a Prisão, por anônimo

16 abr 2019

Texto dessa semana na Plataforma Desencarcera:

14/04/19

Passaram-se cinco meses e ele ainda esta no presídio. O julgamento ocorreu a dois dias atrás. Cinco meses sobrevivendo sem respostas, sem julgamento. Cinco meses passando por inúmeros constrangimentos físicos e psíquicos sem ninguém que possa te ouvir. Aquela frase do “ninguém solta a mão de ninguém” do ano passado não cabe as “mulheres de bandido”. É desse jeito que todas as esposas, companheiras e namoradas são intituladas. Nesta posição somos enxergadas como uma massa homogênea. Pouco importa onde mora ou onde trabalha ou quantos títulos possui. Se chegou até aquele lugar, o lugar de estar todos os sábados aguardando seu nome ser chamado para ser revistada, o lugar da que acorda de madrugada para cozinhar a comida do detento. Se chegou até esse ponto significa que vão te olhar e julgar como mulher de bandido. Ser mulher de bandido não significa ser de fato mulher de bandido. Significa que você está ali, no pátio do presídio e que passará por uma serie de constrangimentos afim de encontrar o seu companheiro. Muitas não precisam ou não chegam a esse ponto. Assim elas não são tachadas como tal ou então possui algum privilegio. Como uma mulher que vago por alguns movimentos sociais descobri a falta de sentido em varias lutas. A falta de lógica em algumas reivindicações e a descrença total no sistema judiciário. Cansei das hastags e frases de efeito, cansei da tal sororidade entre mulheres. Se você é militante homem ou mulher e não tem entre suas reivindicações o termino da prisão precisa refletir mais do que somente reproduzir o que esta ouvindo. Pare um pouco e pense quem vai preso, quem visita os presos. Descobri da pior forma que a luta por uma sociedade sem prisões é necessária. Antes de construir as penalidades, reflita como elas serão impostas e quem responderá por elas. Reflita também na quantidade de homens mulheres e suas famílias são condenados a uma rotina dolorosa sendo que uma quantidade significativa não teve direito nem a julgamento, sendo que muitos estão nessa situação porque não tiveram condições por não ter seus direitos básicos garantidos como educação moradia e alimentação. Comecei a escrever com o intuito contar algum dos inúmeros fatos que me ocorreram ou que presenciei nesses cinco meses. Terminei por desabafar porque é o que consigo fazer agora. Expor minha revolta pois onde terei espaço e quando terei coragem pra expor tudo isso. Estou a cinco meses aguardando o julgamento depois do julgamento ainda tenho que esperar mais dez dias pra saber se continuarei nessa rotina desumana devido a burocracia da justiça dos homens brancos. Como maioria, o meu companheiro é negro e foi preso pela tal “guerra as drogas” . Eu agradeço a Deus por ela estar vivo porque a maioria que é os pobres e pretos afetados por essa guerra ou estão presos ou mortos. Já ouvi relatos de pessoas a mais de um ano sem julgamento. Um ano naquele lugar sem ter julgamento!! Ninguém segura a mão de quem estar preso e dos familiares, ninguém se importa !